A educação tradicional e as pedagogias alternativas – Tonia Casarin

Desde que comecei a me aprofundar na Educação e em suas abordagens, me deparei com uma necessidade de entender como as crianças e os adultos aprendem. Para as crianças, temos a pedagogia. Para os adultos, a andragogia. Porém, hoje há uma série de movimentos colocando em prática pedagogias alternativas — que, embora tragam sentido e sejam condizentes com as necessidades das crianças, sofrem com a pouca reflexão por parte dos profissionais.

Venho aqui fazer um resumo sobre a diferença de ambas as abordagens, além de sabermos mais sobre as ditas “pedagogias alternativas”. Confira:

O “papel da criança”

Na Pedagogia, o papel do aluno tende a ser, por definição, de dependente. A expectativa do papel do professor pela sociedade é de que ele tenha total responsabilidade em determinar:

  • o que  deve ser ensinado à criança;
  • quando deve ser ensinado à criança;
  • como deve ser ensinado à criança;
  • .se, de fato, o conteúdo foi aprendido pelo aluno. 

Além disso, as experiências que os alunos, enquanto crianças, trazem para momentos de aprendizado são vistas como de pouco valor. Eles são considerados seres com pouca experiência ou vivência para contribuir. 

Pode ser um ponto de partida para o aprendizado, porém, na Pedagogia, o que os alunos vão aprender será proveniente do professor, dos livros e de outros materiais ou ainda, especialistas. Portanto, as técnicas mais usadas são os métodos didáticos de transmissão de conhecimento na Pedagogia.

As crianças, portanto, aprendem o que a sociedade espera que eles aprendam ou o que os professores, a escola e os pais determinam. Sem escolha. Sem voz. Sem decisão. Assim, o aprendizado é a aquisição de assunto, com o currículo em sua grande maioria das vezes, organizado por assuntos.

O “papel do adulto”

Já na Andragogia, enquanto adultos, é natural que o processo de amadurecimento leve o adulto da posição de dependência da Pedagogia para o autodirecionamento. O nível de autodirecionamento é diferente para cada adulto, mas tende a ser uma tendência da Andragogia. Os professores têm a responsabilidade de encorajar esse processo e apoiá-lo. Geralmente, os adultos têm uma profunda necessidade psicológica de autonomia, ainda que exerçam um papel de dependência em alguns momentos temporários.

Ainda, os adultos tendem a ser reconhecidos como um rico recurso para a aprendizagem. Portanto, diferentemente da Pedagogia, os métodos de ensino incluem a discussão, o debate, a resolução de problemas e  a análise de situações, por exemplo. Por terem experiência e anos de vivência, tendem a ter mais a colaborar e a construir juntos o conhecimento. 

Os adultos são motivados a aprender porque precisam resolver algum problema, pois são demandados por alguma situação. O aprendizado, portanto, é focado na aplicação do conhecimento na vida prática. Assim, as experiências de aprendizagem tendem a ser baseadas em vivências, uma vez que os adultos têm o desempenho e a performance como centros da aprendizagem.

Novos papéis

Dito isso, me pergunto sobre as várias iniciativas de educação (as “pedagogias alternativas”) que estão sendo criadas e ovacionadas recentemente. É um mundo de idéias sobre educação que fazem enorme sentido e são muito apoiadas pela pesquisa, mas pouco compreendidas ou pensadas pela maioria das pessoas .

Essas abordagens nutrem características como iniciativa, criatividade, autonomia e foco, além de promoverem o autoconhecimento, já que a criança decide o que quer fazer baseada no que ela gosta de fazer.

A Escola da Ponte, criada por José Pacheco, preconiza que  as crianças também são seres que controlam sua própria aprendizagem. Durante a maior parte da história humana, as próprias crianças são educadas por meio da observação, explorando, questionando, brincando e participando . Esses instintos educativos ainda funcionam muito bem para as crianças quando aparecem com as condições que lhes permitam florescer.

O documentário Quando Sinto que Já Sei  provoca o público a pensar em outras abordagens pedagógicas para as crianças. Algumas iniciativas, como a educação em casa (chamada de homeschooling e difundida nos EUA), começam a ganhar adeptos no Brasil, ainda que o governo e alguns juristas aleguem que tirar uma criança da escola é ilegal. Por outro lado, alguns pais defendem o direito de eles próprios (e não o Estado) decidirem como e onde os filhos serão educados.

 

Pedagogias alternativas

Essas iniciativas vão contra o que a Pedagogia defende. São guiadas por verdadeiros interesses das crianças que aprendem a partir de um real interesse e por meio de uma tarefa que pode ser divertida. Essas opções incluem escolas democráticas, em que as crianças dirijam suas próprias atividades e participam ativamente  na gestão e nas decisões da escola. 

São espaços de autoaprendizagem, onde as crianças buscam seus próprios interesses , com o apoio dos pais e outros membros da comunidade, além dos professores — ou melhor, facilitadores do aprendizado. Essas abordagens nutrem características como iniciativa, criatividade, autonomia e foco, além de promover o autoconhecimento, já que a criança decide o que quer fazer baseada no que ela gosta de fazer. Essas características promovem satisfação com a vida e são cada vez mais essencial para o sucesso em nosso mundo em rápida mudança. Como um bônus adicional, o custo financeiro de tais abordagens provou ser muito menos do que a escolaridade chamada de “tradicional” .

Nosso modelo de escolaridade coercitiva não é bom para as crianças. Escolas em que as crianças são obrigadas a suportar (acho que “suportar” é mesmo o melhor verbo aqui) a aprendizagem são motivadas por recompensas extrínsecas e punições, e não por seus verdadeiros interesses. Esse projeto acaba suprimindo a curiosidade natural e substitui formas naturais de aprendizagem das crianças. Pedagogias alternativas reais já existem e têm tido resultados. Porém, a abordagem “alternativa” deveria guiar a real Pedagogia.

O que você acha dessas pedagogias alternativas? Acha que elas têm mais vantagens sobre as metodologias tradicionais? Deixe seu comentário no post!

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