O cenário de mudanças aceleradas não dizem respeito somente às transformações tecnológicas e digitais, com o avanço das tecnologias exponenciais. Mas também sobre mudanças sociais, culturais, políticas e econômicas no âmbito mundial. Cada um de nós é profundamente impactado por essas alterações.
Pensar que há apenas 13 anos, não existia iPhone, iPad, Kindle, 4G, Uber, Airbnb, Android, Spotify, Instagram, Snapchat, WhatsApp tangibiliza essas mudanças. E, atualmente, usamos pelo menos um desses aí de cima todos os dias. Alguma dúvida de que essas transformações impactam as nossas vidas?
Alguns dados ajudam a exemplificar essas transformações. Um relatório do McKinsey Global Institute de 2018 sobre o futuro do trabalho afirma que a procura por habilidades como a criatividade, aumentará a uma taxa de dois dígitos até 2030. Outro dado do Fórum Econômico Mundial diz que 65% das crianças que estão hoje em escola primária vão trabalhar em empregos que ainda não existem. E ainda tem um asterisco (*) em empregos, ressaltando que talvez o próprio conceito de emprego se altere, ou seja, a forma que enxergamos hoje o que é emprego. As próprias relações de trabalho hoje já estão se modificando, e as empresas e, mais especificamente, as áreas de RH, estão buscando se atualizar para se adaptar.
Conforme a Oxford University (2016), 47% dos empregos terão desaparecido em 25 anos. E se um desses empregos for o seu? Em compensação, o Institute for the Future, no Vale do Silício, prevê que 85% das profissões serão novas até 2030. Por outro lado, um dado do Future of Jobs Report, diz que 58 milhões de novos empregos serão gerados até 2025 para gerir as funções desempenhadas por máquinas.
Com cenários de postos de trabalho desaparecendo e as relações de trabalho se modificando, como nos adaptamos a isso? Além disso, o cenário acrescenta outros novos “empregos” sendo criados – alguns deles que nunca existiram antes, como “Youtuber“, atleta de video game, influenciador digital. Você sabia que algumas universidades americanas já estão dando bolsa de estudos para jogadores de videogames profissionais, assim como dão para atletas de futebol, basquete e tênis, por exemplo?
Com tantas mudanças, um dado chama a atenção: 87%das pessoas que estando em algum trabalho não estão engajados com ele, conforme a Organização Mundial do Trabalho. E ainda, o índice de depressão e casos de burnout (estado físico, emocional e mental de exaustão extrema, resultado do acúmulo excessivo em situações de stress) no trabalho tornam-se cada vez mais frequentes. O Brasil é o país mais ansioso do mundo. Um dado da pesquisa da Organização Mundial da Saúde mostra que 9,3% dos brasileiros demonstra ansiedade, enquanto a média mundial é 3,5%. Portanto,
E ainda, como podemos preparar a nós mesmos e nossos filhos para um mundo de tais transformações sem precedentes e incertezas radicais? Se já estamos vivenciando essas mudanças drásticas e a tendência é o ritmo se acelerar, como será daqui a 10 anos?
Pense por um momento: Um bebê nascido hoje terá trinta e poucos anos em 2050. Se tudo correr bem, esse bebê ainda estará por aqui por volta de 2100, e pode até ser um cidadão ativo no mercado de trabalho. O que devemos ensinar a esse bebê que irá ajudá-lo a sobreviver e ter sucesso no século 22 (sim, século 22!)? Infelizmente, como ninguém sabe como será o mundo em 2050, não sabemos a resposta a essas perguntas. Mas, a tendência indica que ele irá mudar de profissão a cada década! E, para isso, deverá aprender a aprender sempre. Pra sempre.
Para sobreviver a esse mundo de constante mudança precisamos desenvolver novas competências. É consenso entre muitos pesquisadores e instituições que pensam o futuro que o desenvolvimento de competências conhecidas como soft skills, inteligência emocional, competências para o século 21, competências socioemocionais é a chave para o sucesso neste mundo incerto. O Future of Jobs Report afirma que já em 2020 (amanhã!), a inteligência emocional estará entre as 5 habilidades mais requisitadas no mercado de trabalho. Precisamos desenvolver o que chamo de Tecnologia Humana.
Imagine um mundo em que todos tivessem a habilidade de se colocar no lugar do outro. Em que as pessoas pudessem lidar com as situações que provocam as emoções mais extremas. Um lugar onde todos conheçam a si mesmos, suas limitações e seus pontos fortes, que saibam lidar com as diferenças e que entendam e saibam se adaptar ao contexto onde estão inseridos. Um mundo no qual as pessoas tenham iniciativa, confiem umas nas outras e que queiram ter sucesso. Provavelmente, todos gostariam de viver em um lugar assim.
Diante de um mundo VUCA – do inglês, volátil, incerto, complexo e ambíguo -, todas as aptidões descritas acima fazem parte da Tecnologia Humana: capacidade de cada um lidar com suas próprias emoções, saber navegar incertezas e dificuldades, desenvolver autoconhecimento, se relacionar com o outro, de ser capaz de colaborar, mediar conflitos e solucionar problemas. Elas são utilizadas no nosso dia-a-dia de forma sistemática e integram todo o processo de formação de uma pessoa como um todo: como indivíduo, como profissional e como cidadão. O desenvolvimento dessas habilidades é o caminho para estar preparado para um futuro que não sabemos como será. Essas habilidades darão suporte para nos adaptarmos e tomarmos decisões melhores para nós mesmos, para o outro e para o mundo.
Em 2015, a Harvard Business Review publicou um artigo com uma premissa que parece contraditória. No mundo cada vez mais tecnológico, as habilidades sociais e emocionais tornam-se mais importantes e fundamentais para as pessoas. Mais do que a capacidade de fazer cálculos de cabeça, saber se relacionar, comunicar, trabalhar em conjunto e se adaptar a circunstâncias diversas podem ser o diferencial para um candidato a uma vaga de trabalho. O artigo aponta que bons robôs são excelentes em tarefas específicas, as quais foram programados para fazer. No entanto, por esse mesmo motivo, não são flexíveis, e essa é a vantagem dos seres humanos no mercado de trabalho. Quanto mais a tecnologia se desenvolve, mais humanos precisamos ser.
Portanto, investir no ser humano e buscar desenvolver as habilidades sociais e emocionais é fundamental para que cada um possa ser indivíduo, um melhor profissional e um melhor cidadão, para que possamos ter uma melhor sociedade. O futuro é humano.